sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Se os bancos falassem

Por João Bosco Leal (*)

Ao fotografar um banco localizado em um Parque que visitava na cidade de Ribeirão Preto, no interior do estado de São Paulo, uma amiga extremamente querida que me guiava magistralmente no conhecimento cultural daquela cidade, sugeriu que eu escrevesse sobre o mesmo.

Comentamos brevemente sobre quantas histórias já haviam se passado sobre aquele banco, mas diante de tantos detalhes, curiosidades e questionamentos que eu fazia sobre aquele e outros locais que estava conhecendo, o assunto não teve continuidade.

Analisando as fotos da viagem, quando vi a foto do banco lembrei-me de sua proposta e de como, realmente, sobre cada um dos milhões de bancos de praças e parques já ocorreram, foram contadas, discutidas e até articuladas as mais diversas histórias.

Quantas alegrias e tristezas foram narradas e vividas por pessoas que neles se sentaram. Escritores e poetas já os utilizaram para ali escrever seus contos, livros e poesias. Amizades nasceram, foram estremecidas ou até mesmo rompidas por declarações sobre eles realizadas.

Namoros foram iniciados, vividos e terminados, sobre bancos de praças. É imensurável e inimaginável a quantidade de promessas de amor eterno que já foram realizadas por quem sobre eles um dia já esteve.

Quem neles nunca descansou depois de uma longa caminhada, de exercícios físicos ou de um passeio, foi porque certamente nunca visitou um parque ou praça onde normalmente estão localizados.

Trabalhadores das obras próximas deles se utilizam para, apoiando nas pernas sua marmita, se alimentar com a comida vinda de casa, preparada ainda durante a madrugada, enquanto mendigos e pessoas em condição de extrema pobreza os utilizam como cama, onde descansam ou dormem.

Senhores, normalmente já aposentados, neles se sentam quase que diariamente ao lado de seus amigos e conhecidos, para passar seu tempo contando sobre sua vida, suas experiências e seu espanto com a rapidez com que tudo evolui atualmente.

Os mais jovens e dedicados ao aprendizado deles se utilizam para, em companhia de colegas de escola, tirarem dúvidas e estudarem para a próxima prova, partilharem das novas tecnologias e, claro, como todo jovem, combinarem quando e onde será a próxima diversão.

Como eu, milhares neles já se sentaram simplesmente para, passivamente e em silêncio, admirar a natureza que os circundava. Nas praças e parques é comum vermos pessoas neles sentadas, esperando os filhos e netos que brincam na areia ou grama próxima.

Acordos dos mais diferentes tipos foram pactuados por quem neles estava. Ali já se soube sobre um novo emprego que se necessitava, se iniciaram negociações sobre os mais diversos temas e objetos móveis e imóveis foram comprados e vendidos.

Milhares de ações de corrupção foram realizadas por quem neles se assentou para discutir seus detalhes e gente inescrupulosa ou até mesmo criminosa, neles se apoiou para tratar de assuntos ilegais, proibidos e inconfessáveis, como se estivessem simplesmente conversando.

No decorrer dos séculos uma infinidade de articulações políticas, algumas que provocaram até guerras, milhões de mortes e mudaram a história da humanidade, foram realizadas por pessoas que neles estavam sentadas.

Se os bancos falassem, certamente a história seria outra.

*Jornalista e empresário; www.joaoboscoleal.com.br

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